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Sobre a fotografia

de Walter Antunes 

por Luama

A prática da fotografia surge na vida de Walter Antunes muito cedo. Desde criança fora fascinado pela câmera fotográfica e na adolescência começou a praticar e nunca mais parou. Ele costuma dizer que fotografa porque não pinta.

Estes fatos encerram duas coisas importantes. A primeira é que, para o autodidata Walter Antunes, fotografar é mesmo uma prática, um exercício, numa dimensão de gesto artístico em constante aperfeiçoamento. A fotografia aqui está ligada à evolução da pessoa do artista, sempre afinando e refinando o gesto da sua prática específica. A segunda coisa importante é o objetivo sempre presente da colaboração na construção da beleza. Não de uma beleza ingênua, tão evidente que possa ser vista por qualquer pessoa no objeto a ser fotografado, mas a beleza que pode ser “descoberta”, através da construção do olhar, no objeto fotografado. A respeito desta questão diz Susan Sontag em seu livro Sobre Fotografia: “Ninguém jamais descobriu a feiura por meio de fotos. Mas muitos, por meio de fotos, descobriram a beleza. (...) No ânimo histórico atual de desencanto (...) a despeito dos objetivos declarados da fotografia indiscreta, sem pose, não raro tosca, de revelar a verdade e não a beleza, a fotografia ainda embeleza. De fato, o triunfo mais duradouro da fotografia foi sua aptidão para descobrir a beleza no humilde, no inane, no decrépito.”

Colocadas estas questões, vale ressaltar que a descoberta do belo, no contexto da fotografia de Walter Antunes, jamais resvala para a falsidade da imagem em relação ao referente. Nunca a imagem-máscara da propaganda, mas sempre a imagem como revelação. Trata-se da descoberta de um belo que se expressa essencialmente na harmonia de cores, linhas e formas do objeto visual construído pelo olhar.

E é possível observar qual é o ponto de partida desta harmonia. Para Walter Antunes, ela se dá muito mais através da similaridade do que do contraste. A busca pela similaridade, não só na estrutura da imagem como também na extensão do contexto, em detrimento do contraste, é uma marca muito presente em todas as imagens do fotógrafo, independente dos temas que trata. Igor Stravinsky, na Poética musical em 6 lições explica muito bem o que a escolha desta técnica reflete: “A similaridade nasce de um desejo de unidade (...). A variedade me cerca de todos os lados. (...) O contraste está por toda a parte. (...) A similaridade está oculta; é preciso procurar por ela, e ela só se deixa encontrar depois de exaustivos esforços. Quando a variedade me tenta, fico inseguro quanto às soluções fáceis que ela me oferece. A similaridade, por outro lado, coloca problemas mais difíceis mas também oferece resultados mais sólidos”.

A combinação destes dois vetores: beleza e similaridade, só se torna plena na atividade artística quando estruturada em conceitos. Desde seu início, o trabalho de Walter Antunes organiza-se em temáticas conceituais. Sua câmera sempre aponta para seu projeto unificador, tentando realizar a síntese aparentemente contraditória entre a fragmentação inerente do ato fotográfico, e a totalização apoiada em um conceito independente dele.

O trabalho de Walter Antunes não é simplesmente “tirar fotos” de um mundo colocado anteriormente à fotografia. As imagens são, para ele, parte de um conjunto de seu projeto mental relacionado ao tema escolhido. Suas fotos são a matéria-prima para a concretização do conceito artístico.

Por isso Walter Antunes sempre é um fotógrafo-artista, um fotógrafo “de exposições”. Sua prática culmina no espetáculo. A realização da obra inclui, desde seu plano inicial, o fatal compartilhamento com o público. Daí a grande quantidade de exposições em seu currículo.

O trabalho de Walter Antunes se estende por mais de uma dezena de temas e mais de quarenta exposições e projetos realizados desde 1996 – entre eles um olhar profundo sobre a cultura de folias de reis e um inusitado trabalho sobre a música brasileira, com foco maior sobre o samba e suas raízes.

 

A sua estréia foi marcada por Espelhos e Travessias, uma sintomática construção fotográfica utilizando sobretudo as linhas e os ângulos das construções barrocas dos edifícios das missões jesuíticas e das igrejas junto com ruínas arqueológicas em locais históricos do Brasil, Peru, Argentina e Bolívia. Um início que testemunha o norteador do espírito do fotógrafo que se faz presente cada vez mais refinado pelo gesto. Um início que revela a idéia, sobretudo estética, regendo este gesto. Gesto que é por fim e por começo, o da busca que culmina na descoberta da beleza.

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